segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Celeuma

Diz o Wikcionário, a respeito do verbete "celeuma":

ce.leu.ma feminino (plural: celeumas)

1. Canto dos remadores enquanto trabalham.
2. (Por extensão) Vozearia de pessoas no trabalho;
3. (Por extensão) Gritaria, algazarra;
4. (Figurado) discussão fervorosa.

Etimologia:
Do grego κέλευσμα (canto de remadores), pelo latim celeuma.


Dou três exemplos:

a) Houve celeuma ao fim da aula, quando a música "Sunspots", do venerável Trent Reznor, encerrou as atividades e convidou a todos para uma polêmica "fuck in the fire".

b) A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo é sempre motivo de celeuma, longas esperas e dores nas costas.

c) "Guitarrista volta à sua cidade natal depois de ser abandonado pela namorada e causa celeuma"

Quanto ao primeiro, meus agradecimentos ao Eduardo, que levou a música, as letras e até me ofereceu o "With Teeth" antes de ir embora. Estava torcendo para que ele tivesse levado "Closer" (teria sido a atividade de "Fill the gaps" mais memorável de todos os tempos!), mas a escolha de "Sunspots" foi acertada. Eis aí uma música do Mr. Self-Destruct que eu sempre evitei, por uma combinação de motivos. Depois de ouvi-la umas três vezes na quinta, porém, percebi que ela é boa, aliás - MUITO boa. Ainda não entrou na minha lista de favoritas, mas quem sabe? Quem vai saber?

Passemos à Mostra, finalmente, mas sem muito entusiasmo. A verdade é que, para quem não é fanática por cinema, nem é tão apaixonada pela produção francesa, vai às sessões desacompanhada e que, por essa razão, não vê a menor graça em ficar uma hora na fila, em pé, esperando por um filme que não valeu a sua dor nas costas (como, pelo visto, acontece na maioria dos casos), é muita celeuma para pouco doce. See what I mean?

Não, não quero dizer que a Mostra pode acabar sendo uma enorme perda de tempo para a humanidade. É uma perda de tempo para mim, a única pessoa com quem preciso me preocupar. Não estou particularmente interessada em ficar me deslocando com horas de antecedência para o centro da cidade (sem ter certeza se conseguirei comprar ingressos ou não), esperar outros tantos minutos em uma fila cheia de gente contando o final dos filmes que eu ainda não vi, para passar mais não sei quanto tempo assistindo aquele filme iraniano mudo (mas com legendas em três línguas!) que a crítica adorou e que eu, simplesmente, não veria novamente a não ser que me pagassem (e muito bem) para isso.

Essas foram as minhas conclusões depois do meu primeiro dia (último, talvez?) na Mostra.

Na sexta, enquanto o pessoal daqui foi para o Farol, um bar que não fica muito longe, eu fui para o IG Cine, assistir "O Império dos Sonhos", do Lynch. Há...! Perdi a viagem. Os ingressos já estavam esgotados. No dia seguinte, resolvi pagar para ver "Não toque no machado", filme que três entre três cinéfilos dizem ser imperdível. 36 graus na Avenida Paulista, de onde já se via a fila para o Espaço Unibanco, na Augusta. Nem precisava dizer: havia chegado tarde, mais uma vez.

Terceira tentativa, ainda no sábado: "A Questão Humana", às 17:30, no Cinesesc. Consegui os ingressos... às 13:30. Aproveitei para comprar também a entrada para "Sombras", de Milcho Manchevski (é, aquele mesmo de "Antes da Chuva", um filme que assisti há uns anos e que me impressionou bastante), e fui para a Livraria Cultura do Conjunto Nacional enrolar um pouquinho. Para quem não a conhece, eis uma foto:

Voltei para o cinema por volta das 17:00, e fiquei 50 minutos na fila. Duas horas e meia depois, o filme não me impressionou. Okay, até que impressionou, mas não faz o meu gênero. Tanto é que, logo na saída, um moço me perguntou se eu já havia assistido alguma coisa que valesse a pena e a minha resposta foi bem simples: "Ainda não". "E qual era o nome do filme?" Olhei para ele com um olhar meio vago. "Não lembro..."

Memória seletiva.

"Sombras" não me despertou tanto interesse quanto "Antes da Chuva", mas tem uma trama bem amarrada. A narrativa se arrasta uma vez ou outra, mas o que achei mais bacana nos dois filmes é que ambos mostram uma face da Europa que nós raramente conseguimos (ou queremos) identificar: a parte miserável, feia, suja, desumana. Neste aspecto, ambos são surpreendentes.

Quando cheguei ao ponto de ônibus, já passava da meia-noite. Tirei meu "Guia da Mostra" e dei uma olhada rápida nas sessões dos próximos dias. Achei curiosa a sinopse de um deles, "Nem Pensar!", que é justamente o exemplo número 3, lá em cima. Parece ou não parece uma comédia? Então, isso aí é uma coisa bem típica do circuito alternativo: você resolve ir ver um tipo de filme e acaba assistindo outro. Pesquise sempre para não se decepcionar. Quer uma comédia? Pesquise. Foi o que eu fiz, e vejam o que encontrei:

"NEM PENSAR! - Stefano Nardini toca música desde os cinco anos. Depois de sair do Conservatório de Música, se torna uma razoavelmente bem-sucedida estrela de punk rock. Aos 36 anos, vai tocar em uma banda em que a maioria dos músicos é jovem. Ele sequer tem uma cama de verdade para dormir ou uma namorada. Tudo o que sobrou foi sua guitarra e um carro cujas portas sempre abrem. Então chega a hora de voltar para a sua família, que não vê há muito tempo, e pensar na vida. Em casa, tudo mudou. Seu pai, depois de ter sofrido um ataque cardíaco, agora só joga golfe. Sua mãe vai a encontros de auto-ajuda. Michela, sua irmã mais nova, deixou tudo para trás a fim de trabalhar em um aquário de golfinhos, e ainda há Alberto, seu irmão mais velho, que ficou com a terrível responsabilidade de manter a família viva, tocando a fábrica deles, que produz cerejas em compotas. Surpreendido por uma série de revelações e descobertas, Stefano se vê relutante em tomar conta de tudo e de todos."

Ou seja, É uma comédia. Mas dramática.

See what I mean? Celeumas do circuito alternativo...

2 comentários:

Anônimo disse...

Huauhahuahuahuuha, obrigada xD

Eu raramente vou a mostras por causa disso. Você tem de comprar os ingressos 37 dias antes, e ainda corre o risco de o filme ser uma joça xD

E, falando em Livraria Cultura, tenho uma amiga paulista que vive esfregando essa livraria na minha cara e me fazendo morrer de inveja porque as livrarias daqui são uma budega (não todas, claro, mas nenhuma das boas fica sequer perto de Copacabana) xD

Anônimo disse...

Anytime!

Pois é, o que seria São Paulo sem suas mega-livrarias, bibliotecas e cafés, além de um centro repleto de teatros, cinemas e casas de shows? Vocês ainda têm o Cristo, as praias, o Jardim Botânico. Aqui nós temos o Tietê e 23 trilhões de toneladas de concreto!