domingo, 25 de novembro de 2007

Sem peso na consciência

Acabou-se a era dos vestibulares, pelo menos até janeiro do próximo ano bissexto. Trocando em miúdos: hoje foi dia de Fuvest.

Agora posso retomar a minha vadiagem de sempre, sem peso na consciência. Não que antes da prova de hoje eu não tivesse vadiado, pelo contrário: vadiei, mas não sem um certo remorso. Afinal, as apostilas de Química, Física e Matemática estão a poucos metros de distância, e assim ficaram, descansando dentro da mesma gaveta, durante os poucos meses em que eu havia decidido, resoluta, dar mais atenção àquelas engrenagens da Termodinânima, dos Fenômenos Ondulatórios, das Ligações Covalentes e das Entalpias.

Sobre a minha vadiagem nos estudos: ela é relativa. Aplica-se, geralmente, àquelas matérias que eu considero execráveis. No tempo que disponibilizei para os meus estudos vestibularescos, comecei pelo que mais me agrada: li "A Cidade e as Serras" e "O Burrinho Pedrês" (para que ninguém diga que "Sagarana" passou em branco) e reli "Dom Casmurro" e "Memórias de um Sargento de Milícias". De forma bastante esparsa, estudei alguns poemas d"A Rosa do Povo" e relembrei Alberto Caeiro. "Auto da Barca do Inferno" e "Vidas Secas" ainda estavam em destaque na minha memória, e "Iracema", ainda que não estivesse, não ganhou atenção porque o chatérrimo "O Guarani" me traumatizou a respeito de Alencar.

Comecei por isso e terminei por isso. Quando peguei meu bom e velho caderno de fichas de resumo, passei os olhos pelos tópicos de Física e notei que a minha memória seletiva não ia me ajudar naquela revisão que eu esperava ser breve. Para conseguir elaborar uma equação de Torricelli crível, eu precisaria dedicar pelo menos uma hora para a introdução, e tão somente a introdução, do estudo da Mecânica. Bastou-me uma conta de multiplicação para perceber que, se quisesse levar adiante uma revisão de Exatas que me servisse para alguma coisa além de enxaquecas, precisaria de muitas, mas muitas horas de estudo diário.

Sendo assim, resignei-me a ficar mesmo na Literatura. Poderia, de fato, ter me atentado mais a alguns detalhes miúdos da História e da Geografia, mas talvez por um excesso de confiança, talvez por pura preguiça, detive-me à resolução da prova da Fuvest de 2007 como meu mais completo exercício de preparação. Desempenho pífio em Exatas, razoável em Biológicas, satisfatório em Humanas (Deus está nos detalhes, e a estes eu não dei muita importância, o que me custou alguns pontos em Geografia).

Hoje de manhã, passou-me pela cabeça uma breve dúvida: qual a melhor leitura para o tempo de espera antes da entrada no local de prova? O suplemento especial sobre a Amazônia ou as fichas de resumo? Por um lado, seria bom expandir um tema em voga e interdisciplinar; de outro, eu precisava estudar Análise Combinatória! Trata-se de uma constante em provas de respeito, e uma que eu sempre desenvolvo na raça, perdendo minutos a fio com o que pode ser resolvido por uma simples fórmula de que eu não me lembro.

Pois bem, se levasse os dois, levaria comigo a dúvida e a perda de tempo seria contraproducente: acabaria não lendo nenhum dos dois com a devida atenção. Atinei: já que os dois parecem bons, melhor não levar nem um, nem outro. Peguei o resumo de Sagarana e resolvi calibrar meus pontos fortes, o que se revelou um erro de estratégia: pouparam Guimarães, e lá estava a boa e velha "o número de maneiras distintas de dispor os nove passageiros é igual a...". Pelo menos, o caderno sobre a Amazônia teria se mostrado igualmente inútil.

A prova, em si, não foi difícil. Exigiu, com ou sem fórmulas, raciocínio e conhecimentos gerais em detrimento da decoreba. Ao chegar em casa, conferi o gabarito e, a não ser que as notas de corte do ano passado saltem 10 ou 15 pontos, eu teria passado para a segunda fase até de Publicidade.

É nessas horas que o Apollo Owen-Kressley dentro de mim estremece de tanto prazer.

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